O Desperdício de Energia e a Necessidade de Soluções Imediatas
O Brasil possui uma vasta riqueza em fontes renováveis, como sol, vento, água e biomassa. Contudo, em vez de utilizar esses recursos para melhorar a vida da população, muitas vezes nos deparamos com um cenário de desperdício. Recentemente, durante um evento no Rio de Janeiro, um representante da usina de Itaipu revelou que a instalação poderia praticamente dobrar sua produção apenas cobrindo uma fração do lago com placas fotovoltaicas. No entanto, essa capacidade adicional seria inútil se continuarmos a desperdiçar uma parte significativa da energia que já geramos.
O Paradoxo da Abundância Energética
O diretor de Itaipu destacou a questão crítica de que, enquanto a oferta de energia aumenta, os preços continuam elevados. Essa situação demanda uma abordagem imediata e estratégica. Sem soluções efetivas de armazenamento, estaremos eternamente à mercê de um modelo que transforma a abundância em ineficiência. Por exemplo, a energia gerada durante os horários de pico, especialmente ao meio-dia, é frequentemente perdida, resultando em um sistema elétrico que opera com ineficiências, o que, por sua vez, eleva as tarifas e compromete a segurança do abastecimento energético.
Desafios e Oportunidades no Armazenamento de Energia
Quando falamos em armazenamento, a imagem que geralmente vem à mente são as baterias. Embora sejam essenciais e a opção mais comum, não são a única alternativa viável, e nem sempre a mais adequada em grande escala para o Brasil. Outras opções promissoras incluem a produção de hidrogênio verde, armazenamento térmico e sistemas gravitacionais, apenas para citar algumas após as baterias.
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Fonte: alagoasinforma.com.br
O Ceticismo em Torno do Hidrogênio Verde
Entretanto, a adoção dessas soluções enfrenta dois desafios principais: os técnicos e os sistêmicos. O hidrogênio, por exemplo, requer avanços significativos em eficiência energética, além de uma infraestrutura segura para seu transporte e uso. Por sua vez, o armazenamento térmico precisa de sistemas mais simples e escaláveis que facilitem a conversão entre energia térmica e elétrica. Já os sistemas gravitacionais ainda precisam de melhorias para operar de forma eficaz em altitudes e volumes de água mais acessíveis.
Ineficiência do Armazenamento Energético
Um dos maiores obstáculos para o progresso dessas soluções é a ineficiência do armazenamento. Atualmente, apenas uma fração da energia estocada pode ser recuperada, com taxas médias de recuperação variando entre 10% e 30%, dependendo da tecnologia utilizada. No caso do hidrogênio verde, até 70% da energia armazenada pode ser perdida, o que representa um desafio significativo.
O Modelo de Precificação da Energia e Seu Impacto no Armazenamento
Este problema técnico é exacerbado por um desafio sistêmico vinculado ao modelo de precificação da energia no Brasil. O sistema tarifário atual não considera o valor do armazenamento, desestimulando assim os investimentos nesse setor. O preço da energia é estabelecido com base em contratos de fornecimento, tarifas de uso de sistemas de transmissão e distribuição, encargos setoriais e tributos.
Propostas para Incentivar o Armazenamento de Energia
Uma possível solução seria a implementação de tarifas específicas de armazenamento, que poderiam ser calculadas de acordo com a quantidade de energia consumida em momentos de baixa geração. Essa medida poderia financiar investimentos em armazenamento, semelhante ao que ocorre com os sistemas de transmissão e distribuição. No entanto, essa abordagem pode prejudicar consumidores que não têm controle sobre a oferta, além de envolver complexidades adicionais na medição e controle.
Alternativas para Geradores de Energia Sazonal
Outra proposta envolve exigir que geradores distribuídos de energias sazonais produzam um percentual adicional em relação ao que consomem. Assim, os armazenadores não pagariam pela energia utilizada durante períodos de alta geração e receberiam compensação pela venda da energia armazenada. No entanto, isso pode desestimular a expansão da geração distribuída, particularmente da energia solar, além de potencialmente causar sobrecargas e desligamentos forçados, dependendo da localização dos geradores e armazenadores.
Regulamentação e Desafios Futuros
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) começou a regulamentar os Sistemas de Armazenamento de Energia (SAE), propondo a cobrança de tarifas tanto na entrada quanto na saída da energia armazenada. Essa abordagem, embora busque a sustentabilidade, pode gerar desincentivos à adoção de tecnologias essenciais, como baterias e usinas reversíveis, encarecendo uma solução que deveria ser estratégica para o país.
A Caminho de um Modelo Energético Sustentável
O que se percebe, portanto, é que a solução para esses desafios não é simples. Embora as tecnologias de armazenamento sejam urgentes, elas necessitam de investimento, pesquisa, vontade política e uma reforma abrangente na forma como valorizamos e precificamos a energia no Brasil. É crucial que o país deixe de ver a energia como um recurso infinito e comece a tratá-la como um ativo estratégico, que deve ser cuidadosamente preservado, distribuído e armazenado com inteligência.
