O Crescente Uso do Enema de Café
Nos últimos tempos, uma prática arriscada tem se tornado cada vez mais popular nas redes sociais: o enema de café. Este procedimento, que consiste em injetar café pelo reto com o intuito de ‘limpar’ o intestino, está atraindo atenção especialmente entre aqueles que buscam emagrecimento e melhorias na saúde digestiva. Com mais de 44 mil publicações utilizando a hashtag #enema no Instagram, muitos usuários compartilham vídeos e experiências que prometem benefícios como redução de inflamações, alívio de dores, melhora do humor e até mesmo a cura do câncer.
No entanto, é fundamental agir com cautela. Especialistas alertam que não existem evidências científicas que sustentem tais alegações. Segundo a oncologista Ana Paula Garcia Cardoso, do Einstein Hospital Israelita, “é desafiador encontrar informações relevantes sobre o tema, visto que as evidências científicas são escassas e de qualidade inferior.”
A História por Trás do Enema de Café
Embora a prática pareça moderna, ela remonta à chamada ‘Terapia de Gerson’, desenvolvida na década de 1930 pelo médico alemão Max Gerson, que se estabeleceu nos Estados Unidos. Gerson defendia uma dieta vegetariana associada à suplementação de vitaminas e ao uso de enemas, incluindo o de café, com o objetivo de desintoxicar o organismo e reforçar o sistema imunológico.
Leia também: Análise das Vacinas nos EUA: Possível Retirada de Sais de Alumínio em Debate
Fonte: alagoasinforma.com.br
Leia também: Projeto de Lei para Distribuição de Repelentes é Aprovado no Rio de Janeiro
Fonte: rjnoar.com.br
A especialista Ana Paula destaca que o conceito de “desintoxicação” é, na verdade, empírico, baseado mais em observações do que em comprovações científicas. “A ideia de que o corpo pode ser desintoxicado de maneira simples e que isso previne doenças graves, como o câncer, continua a ser propagada, especialmente nas redes sociais. Relatos pessoais e promessas simplificadas frequentemente iludem as pessoas e se tornam virais”, alerta.
Os Riscos Associados ao Enema de Café
Até o momento, não há pesquisas que confirmem benefícios do enema de café para limpeza intestinal ou desintoxicação do corpo. Pelo contrário, os riscos associados a essa prática podem ser severos. Entre os efeitos imediatos, estão:
- Cólicas
- Dores
- Urgência para evacuar
- Diarreia
- Sangramentos
- Queimaduras retais
- Desidratação
O uso inadequado ou frequente do enema de café pode resultar em inflamação da mucosa intestinal e alterações eletrolíticas, além de provocar palpitações e ansiedade devido à absorção de cafeína. Em casos extremos, há riscos de perfuração intestinal e infecções generalizadas. Aqueles que já possuem doenças inflamatórias intestinais, hemorroidas, fissuras ou que passaram por cirurgias no cólon ou reto estão ainda mais vulneráveis.
A oncologista enfatiza que esse tipo de prática engana as pessoas, levando-as a acreditar que existe um tratamento alternativo simples e natural para curar doenças graves. “O enema de café não possui qualquer indicação médica reconhecida para prevenção ou tratamento de enfermidades”, afirma.
Alertas e Recomendação de Especialistas
Em setembro do ano passado, o Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) fez um alerta nas redes sobre os riscos associados ao enema de café, classificando a prática como “charlatanismo” e reiterando a falta de comprovações científicas que respaldem essa abordagem.
Para aqueles que desejam melhorar sua digestão e saúde intestinal, a orientação é procurar um médico especialista. Além disso, hábitos saudáveis que podem ser adotados incluem:
- Ingerir mais alimentos ricos em fibras
- Reduzir o consumo de carne vermelha
- Diminuir a ingestão de gorduras de origem animal
- Beber a quantidade adequada de água
- Praticar atividades físicas regularmente
É igualmente crucial manter um olhar crítico sobre as informações consumidas nas redes sociais. Desconfie de curas “naturais” e promessas milagrosas. Na dúvida, busque a orientação do seu médico. “Uma mentira repetida inúmeras vezes não se torna verdade, embora possa ganhar um número considerável de seguidores. Porém, muitos seguidores não são prova de que uma teoria ou tratamento realmente funcione. Essa desinformação pode ter consequências sérias”, finaliza a oncologista.