Transformações no Campo
A agricultura regenerativa tem ganhado destaque no Brasil, trazendo benefícios significativos para o solo, embora os resultados possam levar tempo para se materializarem. Especialistas recomendam que a adoção desse modelo seja gradual e acompanhada de assistência técnica, além de sublinharem a importância do acesso a crédito para impulsionar essa transformação.
Paula Curiacos, gestora da Fazenda Três Meninas Cafés Especiais, localizada em Monte Carmelo (MG), compartilhou sua experiência ao longo de nove anos. Junto com seu marido, Marcelo, ela começou a implementar mudanças na propriedade em meio ao aumento de custos e à alta incidência de pragas. ‘Resgatamos conceitos básicos da agronomia, priorizando a biodiversidade do solo para criar um ambiente mais resiliente e equilibrado’, explicou Paula durante um dos painéis do Summit de Agricultura Regenerativa.
Com o foco na redução do uso de defensivos químicos, a Fazenda Três Meninas obteve um aumento na produtividade, colhendo 50 sacas de café por hectare, superando a média de 31 sacas da região do Cerrado mineiro e a média nacional de 25 sacas. Essa mudança gradual e consciente resultou em uma operação agrícola mais sustentável.
Desafios e Inovações no Setor
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Fonte: olhardanoticia.com.br
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Fonte: odiariodorio.com.br
Rodrigo Ribeiro Cardoso, diretor da Agrícola Whermann em Cristalina (GO), destacou que sua empresa teve que diversificar os cultivos devido às limitações nas áreas produtivas. Essa estratégia levou a Agrícola a produzir cerca de 40 culturas, muitas vezes gerando o fenômeno da ‘ponte verde’, onde plantas hospedeiras atraem pragas. Para contornar esse desafio, a empresa decidiu implementar a agricultura regenerativa. ‘Plantamos braquiária para depois cultivar batata. A braquiária proporciona 40 toneladas de matéria orgânica por hectare, e o aumento da produtividade na batata compensou todo o manejo’, relatou Cardoso.
Bruno Afonso, produtor de coco em Petrolândia (PE), que estava presente no evento, compartilhou sua experiência de integração entre a ovinocultura e o cultivo de coco, ressaltando a utilização do esterco dos animais como adubo, que ajudou a reduzir os custos com fertilizantes nitrogenados.
O Papel do Consumidor na Agricultura Regenerativa
A disseminação da agricultura regenerativa também depende do entendimento do consumidor final. Márcio Milan, vice-presidente de Relações Institucionais da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), enfatizou a necessidade de informar as 30 milhões de pessoas que frequentam os supermercados diariamente sobre as razões que impactam os preços dos produtos, como o café.
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Fonte: alagoasinforma.com.br
A vice-presidente de Assuntos Corporativos da PepsiCo América Latina, Suelma Rosa, reforçou a relevância do trabalho conjunto entre todos os elos da cadeia agrícola para educar os consumidores. Alex Carreteiro, presidente de alimentos da PepsiCo no Conesul, apontou que a agricultura regenerativa é essencial para atender à meta de zero emissões de carbono. ‘Com o solo atuando como sequestrador de CO2, a agropecuária pode ajudar na mitigação das emissões e nas mudanças climáticas’, afirmou.
Desafios e Caminhos para o Futuro
A professora da Fundação Dom Cabral, Kadigia Faccin, observou que, embora a construção da agricultura regenerativa demande esforços colaborativos, ainda existem barreiras, como a falta de apoio técnico e financeiro. Alessandra Fajardo, diretora-executiva do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds), destacou a importância de reconhecer e estimular as boas práticas já adotadas por diversos produtores em território nacional.
Ludmila Rattis, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), acrescentou que propriedades que transitam para insumos biológicos tendem a melhorar a qualidade de vida das comunidades ao redor. Marina Piatto, do Imaflora, disse que a agricultura regenerativa envolve métodos como o plantio direto, além de integrar a biodiversidade e o manejo hídrico.
Se implementada em larga escala, a agricultura regenerativa pode enfrentar os desafios da agropecuária, promovendo uma produção mais eficiente e sustentável. Participantes do painel discutiram como essas práticas podem aumentar a produtividade e reduzir custos, sendo uma resposta às mudanças climáticas e à crescente demanda por alimentos. Eduardo Cerri, professor da Esalq/USP, ressaltou a vantagem dos produtores que adquirem as boas práticas agrícolas.
Marcello Brito, enviado especial da COP30, enfatizou a necessidade de criar incentivos que ampliem as iniciativas de agricultura regenerativa. Ele observou que os agricultores recebem apenas 8% do valor final dos alimentos, destacando a importância de apoiar os pequenos e médios produtores para garantir a transformação desejada na agricultura brasileira.
Embora o Brasil ainda tenha um longo caminho a percorrer na adoção das melhores práticas, Jonathas Moreira Alencar, do Ministério da Agricultura, reconheceu os avanços já realizados, como os financiamentos verdes do Plano Safra e a recente criação do Plano Nacional de Recuperação de Áreas Degradadas. O governo já firmou acordos com o BNDES e busca parcerias internacionais para recuperar áreas degradadas, visando oferecer R$ 32 bilhões em crédito para a recuperação de 40 milhões de hectares.
A relevância dos pequenos produtores e assentados é inegável nos esforços pela segurança alimentar e a preservação ambiental, segundo Fabíola Zerbini, da organização Conexsus. O futuro da agricultura no Brasil depende da união de esforços para transformar o cenário atual em um modelo mais sustentável e produtivo.
